Vidência
Fazendo parte
do universo dos equívocos espíritas, muitos confrades, têm pregado
sistematicamente que a vidência, é um fenômeno anímico. Dizem isso, afirmando
que é a ‘’alma’’ (anima), quem
faculta ao indivíduo ver. Concordo plenamente que é a alma quem faculta ao
sujeito ver. Outrossim, pergunto: Qual o fenômeno em que o ser encarnado atua,
que prescinde da participação da alma? Conhecem acaso algum? Nem por isso, tudo
é animismo. É notório, que o corpo humano atua, em todos os sentidos falando,
porque existe uma alma à anima-lo. Daí, por que no trato dos fenômenos
medianímicos, conceituar a vidência como animismo? Partindo deste pressuposto,
( de que, é a alma que faculta a vidência ) toda e qualquer mediunidade seria
também animismo, porque é essa, que possibilita ao ser humano, ( conjunto de
corpo físico mais alma ) servir de médium do mundo exterior, e de si mesmo, que
neste caso sim, chamaríamos de animismo.
Gostaria de
deixar claro que a palavra médium,
nos compêndios da doutrina espírita, não é apenas alguém que serve de
medianeiro. É sim, antes de tudo, aquele indivíduo dotado de faculdades
especiais, que, no passado era chamado de piton
ou pitonisa e hoje, no estudos da
psique, chamado de paranormal.
Particularmente
entendo, que o problema reside, não na
ação da vidência em si, mas, nos conceitos que nós espíritas, temos dado às
palavras, mediunidade e animismo. É na busca de suas morfologias, que os
estudiosos se prendem ao superficial, em detrimento do âmago da questão. O
animismo, nada mais é do que uma ação mediúnica, do próprio comunicante, quando
essa, externa-se, espontaneamente ou por indução, dos refolhos do seu
inconsciente profundo. Também, está catalogado como animismo a
mistificação; seja essa, consciente ou
inconsciente.
É preciso, que
o espírita entenda, que Allan Kardec, nosso modelo maior depois do Cristo
Jesus, em o Livro dos Médiuns, guia esclarecedor no assunto mediunidade, jamais
utilizou-se da palavra animismo. Na verdade, temos ao longo de alguns anos, nos
apegado na deixa de Aksakof.
Coube ao russo, Alexandre
Aksakof, homem impoluto, pensador, filósofo e conselheiro do Império daquele
país, propor o uso da palavra
animismo. Aliás, ele próprio, em nota de rodapé, na pág. 226, do Vol. II, do
seu livro Animismo e Espiritismo, nos diz, que, quem primeiro utilizou a
palavra animismo, foi o Dr. Stahl, em seu sistema médico. Ele, o Dr. Sthal,
considerava a alma ( anima ) como o princípio vital e o corpo, como sua
criação, e agente de suas ações. Vê-se portanto, que o Dr. Stahl, jamais
associou o animismo com a doutrina espírita, uma vez que em sua época, essa,
ainda não tinha sido codificada. Ele
designava de animismo, a ação da alma sobre o seu corpo físico. A utilização da palavra animismo pelo Dr.
Stahl, em nada se aproxima do uso que nós espíritas, hoje lhe damos.
Naquele período, quando a
doutrina espírita, recém codificada, veio esclarecer ao mundo que os raps, as
mesas girantes e as pranchetas escreventes, entre outros fenômenos, eram frutos
de uma ação inteligente, extra material, surgiu na época, um homem muito culto,
inteligentíssimo, também pensador, como Aksakof, alemão de nascimento, e que se
chamava de Eduardo Von Hartmann. Era o Quevedo daqueles dias.
Hartmann, não aceitava de
forma alguma que o espírito, depois de desencarnado, pudesse fazer parte do
nosso campo de ação, muito menos, agir sobre a matéria. Foi talvez, o maior
detrator do espiritismo em todos os tempos. Todos os fenômenos, naquela época
em voga, - porque, era a única forma dos espíritos chamarem atenção sobre a
real imortalidade da alma – segundo ele, era possível, porque o sensitivo,
utilizava-se de uma força nervosa
mediúnica, levada a efeito, por uma super excitação psíquica de médiuns mui
especiais.
Aksakof, que se
apaixonara pela beleza do Espiritismo, - pois que antes era céptico, - como
homem digno e probo, passou a pesquisar,
catalogar fatos e matérias, muito divulgadas em jornais de toda Europa e
América, como parte de um rigoroso estudo. Assim, para melhor formular o seu
raciocínio, de forma a responder, convincentemente ao Sr. Hartmann, mais uma
vez, propôs dividir os fatos
mediúnicos em dois:
O Espiritual; que seriam todos os fenômenos levados a efeito pela
ação comprovadas dos espíritos;
O Anímico; que seriam todos os fenômenos levados a efeito pela ação
consciente ou inconsciente, do espírito encarnado ou, alma, como também, os que não se enquadrassem no caso acima.
Vejamos
o que, o próprio Aksakof, nos deixa escrito, na pág.226, no vol. II, o seu
livro já supra mencionado: ‘’Para
maior brevidade, proponho designar
pela palavra animismo todos os fenômenos intelectuais e físicos que deixam de
supor uma atividade extracorpórea ou a distancia do organismo humano, e mais
especialmente todos os fenômenos mediúnicos que podem ser explicados por uma
ação que o homem vivo exerce além dos limites do corpo.
Quanto
ao que diz respeito à palavra espiritismo, ela será aplicada somente aos
fenômenos que, após exame, não podem ser explicados por nenhuma das teorias
precedentes e oferecem bases sérias para a admissão da hipótese de uma
comunicação com os mortos. Se as asserções contidas nesta hipótese acham sua
justificação, então o termo animismo será aplicado a sua categoria especial de
fenômenos, produzidos pelo princípio anímico ( considerado como ser
independente, razoável e organizador ) enquanto está ligado ao corpo; e neste
caso a palavra espiritismo compreenderá todos os fenômenos que podem ser
considerados como manifestação desse mesmo princípio, porém desprendido do
corpo. Por mediunismo entenderemos todos
os fenômenos compreendidos no animismo e no espiritismo, independentemente de
uma ou de outra dessas hipóteses. ’’
Notamos
claramente, que Aksakof, não quis ir de encontro ao ‘’bom senso vivo’’
denominado de Allan Kardec. Apenas quis, com o termo animismo, dizer ao Sr.
Hartmann, que se era possível ao espírito encarnado, comunicar-se
telepaticamente, bilocar-se, escrever através da mão de algum médium, entre outras ações, por que não o seria, para
o espírito desencarnado?
Na
verdade, o termo animismo, foi o que de mais correto na época, Aksakof e depois
outros, acharam, para provar ao detratores, a possibilidade da ação espiritual.
( entenda-se do espírito desencarnado. )
Outrossim, Allan Kardec, em o Livro dos
Médiuns, capítulo XIV, - Dos Médiuns –
Ensina-nos na questão 159. ‘’ Todo
aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse
fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um
privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam
alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.
Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade
mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de
certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos
sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela da mesma
maneira, em todos. Geralmente os médiuns têm uma aptidão especial para os
fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades,
quantas são as espécies de manifestações. As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos
videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos. ‘’
Adiante, neste mesmo capítulo, no item 5º - Médiuns Videntes - , na questão 167 ‘’ Os médiuns videntes são dotados da
faculdade de ver os Espíritos. Alguns gozam dessa faculdade em estado normal,
quando perfeitamente acordados, e conservam lembranças precisas do que viram.
Outros, só a possuem em estado sonambúlico, ou próximo do sonambulismo. Raro é,
que esta faculdade se mostre permanente; quase sempre é efeito de uma crise
passageira. Na categoria dos médiuns
videntes se podem incluir todas as pessoas dotadas de dupla vista. A possibilidade de ver em sonho os Espíritos
resulta, sem contestação, de uma espécie de mediúnidade, mas não constitui,
propriamente falando, o que se chama médium vidente. ‘’
Assim,
conforme Kardec, nos orienta nas questões acima, a Vidência é Mediunidade,
pois, aquele que vê, segundo a questão 159 é Médium Vidente.
Contudo, neste
trabalho que faz parte de um ensaio que estou elaborando, para que os equívocos
diminuam, oriento aos neófitos, pois que os espíritas mais velhos já o sabem
que:
Médium, (
Sensitivo ou supranormal. ) = É todo aquele que, sente, ver, ouve, escreve,
pinta, fala e etc., sobre a ação dos espíritos.
Mediunidade =
Exercício da função de médium.
Animismo =
Fenômeno mediúnico, que consiste em o médium, externar criações próprias (
mistificação ) e, ou, aquisições pretéritas, que dormitam latentes no seu
inconsciente.
Riachão do
Jacuipe- Ba., 15 de Dezembro de 1998.
Antonio Reinaldo Carneiro Oliveira.