É ali, fabuloso laboratório de análise psicológica para
aqueles que querem experimentar.
São moças e rapazes
novos e bonitos sem quaisquer máscaras, moças e rapazes bonitos cheios de
máscaras, moças e rapazes não tão bonitos, mas, que se acham bonitos, por isso,
logo são, senhoras de meia idade querendo ser gatinhas e se vestindo como elas,
senhores de meia idade querendo ser gatinhos e se vestindo como eles. Vi neste
tópico, coisas que não tive como não sorrir. Felizmente as pessoas não perceberam.
Vou lhes contar um caso apenas:
Era um senhor de mais ou menos sessenta e cinco, ou, até uns
sessenta e sete anos, mascando chiclete, com um q de sorriso vitorioso no canto
da boca.... Sem barba, talvez para não lhe denunciar a idade, cabelos pintados
de preto, bem preto. Vestia calça bem colada no corpo, que se via arrematada
por um sapato marrom, bico mais ou menos, novinho em folha, parecia ter saído
da loja naquele instante. Camisa de mangas compridas arregaçadas até a metade
do braço de forma a mostrar que o coroa pega pesado na malhação. Deixou dois
botões abertos na parte superior para poder mostrar vistoso cordão, que, supôs
de ouro. Já na parte inferior, a camisa fora colocada para dentro da calça na
parte da frente, mostrando, primeiro que o coroa não tinha barriga,depois que o
cinto que usava, combinava perfeitamente com o sapato novinho. Nem precisa
perguntar: Claro que o cinto era tão novíssimo quanto o sapato. O engraçado foi
quando o coroa em dado momento quis disputar uma garota linda que vinha pegada
na mão do seu namorado, que por sinal, verdade seja dita, era um rapaz muito
bonito. Pois bem. O coroa andou uns cinco metros tentando despir com o seu
olhar, o short bem colado que valorizava as pernas bem torneadas da
moçoila. Em dado momento, lhe dirigiu
olhar interrogativo como se perguntasse a mocinha: Então gata, tu não estais me
vendo em tua frente? Não vê que sou um jovem bonito e bem charmoso? Sim! Essa
foi a pergunta que pude ler no olhar daquele senhor, até porque, na cabeça dele,
sua idade poderia ser de trinta, no máximo trinta e cinco anos, jamais,
sessenta e cinco, muito menos ainda, sessenta e sete. Louco! Só pode ser louco, pensei... É que a garota tinha idade de ser sua neta,
posto que não tivesse ainda dezoito anos, ademais, com namorado pegado em sua
mão, e, mais ainda, namorado novo, porque deveria ter uns vinte anos, e lindo.
Louco sim! Felizmente sumiu. Deve ter ido até a praça de alimentação... Será
que não entrou na livraria, você me perguntou, leitor? Agora quem está louco é
você, por achar que um tiozinho daquele lê alguma coisa. Talvez bula de remédio
quando estiver de dor de barriga.
Naquele laboratório todas as pessoas eram iguais uma vez que
a heterogeneidade determinada pela personalidade, cor e tipo de cabelo, pele,
estado civil, condição sócio econômica saía de cena para dar lugar a
homogeneidade que se constituía pelos freqüentadores do shopping. Sim! Todos,
naquele “tapete vermelho” não eram senão, freqüentadores do shopping, e, de uma
forma ou de outra, se encontravam felizes por estarem naquele lugar.
Outra coisa interessante ali no laboratório são as trocas de
olhares. Como se tenta devassar a alma alheia ali. E quanto magnetismo ali existe? Tem certos
olhares, que, mesmo por milésimos de segundos são irresistíveis. Ali nesta
questão de olhar, o bom pesquisador fica olhando os “micos” que pagam os
homens, porque, ao olharem, direcionam tanto o olhar para certo ponto, seja o
rosto, o busto, o ventre, as pernas ou mesmo todo o conjunto, que, se não tiverem
cuidado acabam se batendo em alguém. Como somos bobos nós homens! Já as
mulheres, olham discretamente, apenas no canto dos olhos. Às vezes repetem
aquele movimento no olhar. Se não são tocadas seguem suas “viagens” sejam os
homens como forem, não interessam nem mesmo a beleza. É mais ou menos assim. Se
não foram tocadas magneticamente, não estão nem aí. Entretanto, se foram, não
ficam como os homens que muitas vezes ficam andando e olhando para traz. Quando
os carinhas lhes tocam, param em uma vitrine próxima, olham, acenam, comentam sobre
qualquer coisa, e, de quando em vez, olham discretamente. Se os carinhas estão
sentados esperando por alguém, elas vão mais à frente e não demoram muito,
retornam àquele ponto. Umas param um pouco, falam ou fingem falar no celular,
outras, olham mais uma vez, porém, muito discretamente.
Algo não menos interessante que fiquei a analisar ali no
corredor do shopping, é que uma sacolinha com duas calcinhas ou duas cuecas tem
o mesmo peso psicológico de um sacolão com um terno, ou, com dois ou três pares
de sapatos. Ali, diferente de outros locais, ninguém se sente diminuído por
nada. Todos são! Todos estão!
Decerto que faz muito bem o corredor de um shopping!
Antonio Rey.
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