terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Canciones Brasiles!


Depois de um tempo sem poetar
Tomo tua pena de empréstimo
E tendo a esperança por laurel
Volto a gritar o meu brado, na terra onde reina Ismael.

E ora torno a protestar como dantes...
Só que dantes, cantei a miséria escrava,
E ora, cantarei uma miséria que muito dói e muito grassa,
Que observo nos campos, nos guetos; nas ruas e também pelas praças.

Fome, ó fome! Teus tentáculos,
Quais os da Hidra de Lerna, cingem num amplexo dorido,
Infortunados filhos da pobreza...
Largados na vida, ante o olhar da nobreza.

Nobreza, da qual só consigo sentir dó,
Porque, distante do real, imersa em seu asco,
Qual Tristão de Ataíde,
Com olhar de desprezo: - mata; fere; agride.
 
Nobreza, comprometida com o nada,
Que habita castelos inócuos,
Que desconhece Platão e Plotino discorrendo sobre o Ser...
Por isso perde-se pela vida, na busca do ter.

Nobreza! Árvore inerte, sem fruto; sem flor.
Lânguida filha da mãe avareza,
De alma pobre e glacial
Vida vã; vida vil sob os auspícios do mal.
 
Assim, se dantes vi o negrinho esquálido,
Sugando as secas tetas maternas,
Hoje, vejo nos guetos, velhos, jovens e crianças,
Num estertório de horror, clamando ao nada, cheios de esperança.

Que um dia, desça um anjo do Céu,
E assuma o poder temporário da Terra,
E transforme a pedra dura; - o coração,
Em vasilhas abarrotadas de mel e cestos cheios de pão.

Mas, até que este anjo aqui aporte,
Não posso calar minha voz, ante este gládio que me dói,
E solto o meu grito ao Infinito...
Pai! Desce de Tua Glória; socorre esses pobres aflitos.

Vede ó Pai Grandioso! Vede esta cena tão tétrica
Nos terreiros de minha Terra Bahia,
Mães esquálidas recorrem a dispensa; recorrem o armário,
Vazios e sem nada, com lágrimas nos olhos, fitam o zimbório.

E, como se Te visse naquele, retira duas lágrimas dos olhos,
E ouvindo o Mestre alvitrar: ‘’Bem aventurados os aflitos...’’
Dedica-Te, suas lágrimas, como óbulo
E de Te, em resposta, sente um ósculo.

Não apenas na Bahia, meu Pai. Olhai também por todo o Nordeste!
Por quê tanta fome meu Pai, seria isso uma peste?
Que os imundos e nojentos políticos,
Usam como mote em grande bazófia e reboliço?

Acolá, coração paterno, álgido de dor,
Põe a mão nos ouvidos pra não ouvir os clamores,
De oito rebentos descarnados, e, nos catres largados,
E chora o mais triste dos choros, nunca dantes chorado.

Pai! Por quê o humano terreno é assim?
Ele estando bem, jamais se importa com o irmão?
Diferente de outras plagas que em Tua casa conheci,
A lei desta Terra é: - cada um só por si.

Não me responda meu Pai, que já sei Tua resposta.
Mas, é que nesta minha ode, não me dirijo à Ti,
Antes, num desespero, usando-Te em metáfora, tento fazer do egoísmo,
Coisa do passado, e, em seu lugar, nascer o altruísmo.

Ó minha Terra; ó meu Brasil!
Tu que em um passado glorioso me incendiou o coração.
Lutai contra esta droga letal que deixa o teu filho insone,
Uni-vos povo brasileiro! Uni-vos e exterminai a tal fome!



Antonio Reinaldo Carneiro Oliveira =  Rey.

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