Não era tão diferente de uma moça comum. Tinha cabelos
longos, pretos e sedosos de forma a dar vontade de passar os dedos entre eles. Tinha
os seus cabelos o agradável cheiro de amora. A pele era morena clara e os
olhos, porque não usasse lentes de contato eram pretos. Rosto quase comum, não
fosse por aquela pequena neguinha sobre o lado esquerdo do seu lábio superior.
Não se sabe se bonita ou apenas simpática. Anca mediana, onde os culotes não
tão largos nem tão estreitos de forma a combinar com pernas bem torneadas e
muito definidas incitavam os desejos. Seu andar, desprovido da elegância
esperada para o andar de uma linda mulher, talvez falasse de uma pressa que não
se sabe justificada pela sua vida. Gostava muito de ler, daí a cultura que
tanto cativava a alma daquele poeta. Tinha um sorriso discreto que se fazia
mais belo pelos contornos graciosos que sua boca impunha. Assim era o amor que
o meu amigo amara. Assim era aquele amor tão sonhado. Amor que de tão imenso,
ao lhe ver partir, fosse pela direção de vida contrária que a vida lhe
impusera, fosse pela falta de querer com ele ficar, fosse por outro amor que
aquele viera lhe substituir, ou, fosse por algum outro motivo que ainda não sei,
mas, que poderei vir a descobrir, fizera com que ele assim se expressasse
quando ela lhe deixou:
- E quando tuas asas te conduziram para tão distante de mim,
a inércia tomou o teu lugar fazendo com que o silêncio fosse o meu maior
alarido. Meu olhar confuso, ora te
buscava no arrebol de o amanhecer, ora no ocaso rubro, e porque não te
encontrava, a dor da tua falta, mais intensa se fazia. E se te encontrava não
era apenas uma, mas, duas, e isso me paralisava –
Do romance em construção: A
Ostra, de Antonio Rey.
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